Ex-comandante da Marinha critica ex-chefe da FAB ao rebater acusações
Garnier negou que colocou tropas à disposição e que ouviu ameaça de prisão a Bolsonaro

O ex-comandante da Marinha almirante Almir Garnier não poupou críticas ao tenente-brigadeiro do Ar Carlos Baptista Jr, ex-chefe da Força Aérea Brasileira (FAB), ao rebater as acusações de que teria colocado tropas da Força à disposição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em um plano de golpe de Estado.
Ao longo do seu depoimento de pouco mais de uma hora, Garnier se concentrou em contestar os depoimentos de Baptista Jr e chegou a ironizar a postura do ex-comandante da FAB para minimizar sua adesão uma tentativa de manter Bolsonaro no poder.
Questionado pelo ministro Alexandre de Moraes sobre a reunião em que o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, teria apresentado um documento para implementar um estado de sítio ou de defesa no país, Garnier rebateu Baptista Jr.
"Essa reunião foi estranha, porque ela se encerrou antes de começar. Fiquei com a impressão de que eu cheguei um pouquinho depois de outros colegas. Quando eu entrei e percebi que havia tido algum tipo de desentendimento ou discussão anterior e a reunião foi encerrada. O ministro não abriu pauta adicional e parecia estar chateado com o desenrolar da conversa e a reunião foi encerrado", disse Garnier.
O ex-comandante da Marinha afirmou ainda não ter visto documento nem Baptista Jr deixar a reunião após confrontar o então ministro da Defesa. Ele ainda criticou a postura que o ex-chefe FAB.
"Não vi documento, não foi apresentado documento e não vi brigadeiro Baptista Jr dizer isso. Acho até que isso não se coaduna com a atitude de um comandante de Força. Um comandante não diz ao ministro da Defesa palavras dessa natureza", afirmou.
Em vários momentos, Garnier rebateu as declarações de Baptista Jr que disse à Polícia Federal e como testemunha no STF de que o então chefe da Marinha teria colocado as tropas à disposição. O almirante afirmou ainda que a única preocupação era com a segurança pública e a possibilidade de um decreto da Garantia da Lei da Ordem (GLO).
"O presidente não abriu palavra para nós. O presidente expressou ali o que pareciam para mim mais preocupações e análises de possibilidades do que propriamente uma ideia ou intenção de conduzir alguma coisa em certa direção. A única que percebi – e que era me era importante – era a preocupação com a segurança pública para qual a GLO é um instrumento adequado para certos parâmetros", disse.
Garnier procurou se afastar das acusações das discussões de uma tentativa de golpe de Estado. "Eu era comandante da Marinha, eu não era assessor político do presidente. Eu me ative ao meu papel institucional."
O ex-comandante da Marinha disse ainda que Baptista Jr. tentava fazer um "assessoramento político" ao então presidente Bolsonaro, enquanto ele se mantinha calado para não dar "bom dia a cavalo".
"Em nossas reuniões, não essas aí, ele (Baptista Jr) tinha ideia de que poderia dar assessoramento político ao presidente. Eu achava aquilo tão desnecessário. [Dizia]: 'Presidente, o senhor tem um plano de comunicação melhor…’. Eu não era assessor, eu era comandante da Marinha. A minha só interessaria, caso eu recebesse alguma ordem, alguma orientação para agir de alguma maneira. Fora isso, eu preferia me manter calado, porque como diz o próprio doutor Demóstenes [seu advogado]: ‘Quem fala demais dá bom dia a cavalo’", disse.